O PAPIRO DE EBERS
Diversos rolos de papiro
sobreviveram ao decorrer dos milénios e trouxeram até aos nossos dias
informações preciosas sobre a prática da Medicina no antigo Egipto. Conhecem-se
14 rolos de papiros médicos, em estados variáveis de conservação. A maioria
data do Império Médio (de 2050 a 1800 a.C.) mas contém informação recolhida em
épocas anterires.
O Papiro de Ebers foi descoberto
entre os restos de uma múmia, no túmulo de Assassif, em Luxor. Este papiro e o
de Edwin Smith são quase contemporâneos.
O nome do papiro representa
uma homenagem ao egiptólogo alemão Georg Ebers que o adquiriu, em 1873, ao
comerciante de antiguidades Edwin Smith e o traduziu.´
Como tanto são referidos o nono ano do reinado de Amenofis I (1536 a.C.), como um dos reis do Baixo Egito, que governou 1.500 anos mais cedo, supõe-se que os textos antigos foram sucessivamente copiados.
O Papiro de Ebers está em
exposição na biblioteca da Universidade de Leipzig. Consiste num rolo de cerca
de 20 metros de comprimento e 30 cm de altura, com 110 páginas. Encontra-se em
excelente estado de conservação. O papel de cânhamo usado na época mostrou-se
espantosamente resistente. O clima seco deve ter contribuído para evitar a
deterioração das folhas.
Ao longo da sua longa história, o pensamento médico egípcio beneficiou de alguma evolução. Acreditava-se que a doença era o resultado da ação dum espírito maligno sobre o organismo. A cura só podia acontecer se o demónio saísse. Era esse o objectivo do exorcismo. O médico podia unicamente agir sobre alguns sintomas. O conhecimento empírico, aos poucos foi ganhando espaço às conceções mágicas, mas isso notou-se melhor nas afeções cirúrgicas que nas médicas.
O papiro enumera cerca de
700 fórmulas mágicas e muitos remédios populares. Refere variados encantamentos
destinados a afastar os demónios causadores das doenças. Inclui uma descrição
bastante aproximada do sistema circulatório.
São indicados tratamentos
para vários tipos de enfermidades.
O Papiro de Ebers
proporciona-nos ainda uma informação curiosa: os cuidados de saúde no antigo Egito
eram gratuitos. O Estado pagava aos médicos, que gozavam de grande
consideração.
Os médicos egípcios
antigos utilizaram mais de 700 substâncias, sobretudo de origem vegetal. Foram
eles que elaboraram a primeira farmacopeia da História. Faziam uso do alho, do
colchicum, do incenso, da menta, do rícino, da mirra e da papoila dormideira, entre
muitas outras plantas. O mel servia como base para unguentos curativos. Eram
também usados produtos surpreendentes, como o leite de mulher grávida, o sangue
de lagarto e livro velho fervido.
Um dos ingredientes mais
vezes mencionados é o ocre, ou argila, prescrito tanto para disfunções
intestinais como para problemas oculares, como a irritação provocada pela
poeira, ainda hoje frequente no vale do Nilo.
Os cosméticos usados para
a pintura dos olhos continham pigmentos tóxicos como o chumbo, o antimónio e a
malaquite. Em doses pequenas, poderiam prevenir as infeções oculares.
Os cirurgiões egípcios suturavam
as feridas e tratavam-nas com carne crua. Recorriam ao ópio para aliviar a dor.
Imobilizavam membros fraturados e procediam a amputações.
Ficamos com a ideia de que
os cirurgiões eram mais terra a terra e portanto mais eficazes, enquanto os
médicos eram mais chegados à magia. Não conheço, contudo, referências à separação
entre Medicina e Cirurgia no velho Egito.
Na falta de representações
visuais elucidativas, o conhecimento da anatomia pode avaliar-se pela extensão
do vocabulário conhecido. Sendo rico na descrição da anatomia superficial, era
pobre ao referir-se aos órgãos internos. As vísceras representadas nos
hieróglifos são quase sempre de animais. Os médicos egípcios conheciam os
ossos, o coração, os pulmões, o cérebro, o fígado, os intestinos e a bexiga. Supunham
que o funcionamento vascular era regulado pelo coração, mas não distinguiam
veias de artérias, assim como não diferenciavam nervos de tendões. Acreditavam
que o pensamento se localizava no coração. O cérebro, aliás, era removido pelo
nariz no começo dos procedimentos de mumificação. Não era considerado essencial
à sobrevivência da alma, não lhe sendo dado espaço nos vasos canopos.
Dou finda esta reflexão
sobre o Papiro de Ebers reproduzindo um conselho que nele é dado às mães: deveriam
untar os bebés com gordura de gato, para que os ratos os não incomodassem.
Julgo que o preceito nunca
foi popular entre os gatos.
Fonte de texto e imagens: Internet.
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