Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

MEDICINA CHINESA E OCIDENTAL



ALGUNS CONCEITOS PARALELOS
I
A DIALÉTICA. O YANG E O YIN

Resolvi preparar, para este blogue, dois ou três pequenos artigos sobre a medicina tradicional chinesa. Comecei por ler o interessante livrinho de Cecília Jorge e Beltrão Coelho intitulado «Medicina Chinesa – em busca do equilíbrio perdido», publicado pelo Instituto Cultural de Macau, em associação com o Círculo de Leitores, em 1988.
Para além da atenção à higiene pessoal e às medidas preventivas, patentes nesta divulgação de antigos conceitos da medicina oriental, achei particularmente interessante a preocupação com o reforço das defesas imunitárias, segundo a noção que os chineses delas faziam.


Encontram-se semelhanças notáveis entre diversas ideias chinesas e ocidentais, a começar pelos conceitos de Yang e Yin, energias geminadas e opostas que nos remetem de imediato para as ideias de unidade e luta dos contrários da filosofia hegeliana.  
    Para os chineses, o Universo é gerido por duas forças contrárias - o Yang, «calor radical», princípio masculino e positivo e o Yin, «húmido radical», elemento feminino e negativo. O equilíbrio destas duas forças gera, no  mundo, a harmonia. O predomínio duma ou doutra conduz à desordem.


HEGEL


A dialética tem raízes profundas na cultura ocidental. Segundo Aristóteles, teria sido iniciada por Zenão de Eleia, que viveu aproximadamente entre 490 e 430 a.C. Na Grécia antiga, a dialética seria apenas a arte de argumentar no diálogo. O filósofo punha uma ideia em discussão – era a «tese». Havia quem se opusesse com um pensamento contraditório – era a «antítese». Da discussão nascia a «síntese», que abrangia partes de ambos os conceitos.
O conceito de dialética está longe de ser uniforme e assume significados diferentes para distintos pensadores. Heráclito, cuja atualidade poucos põem em causa, terá sido o filósofo dialético mais radical da velha Grécia. Hegel atribuía à dialética um caráter idealista que interpretava o movimento do espírito. Engels considerou-a materialista. A segunda das três leis da dialética que Friedrich Engels propõe é a da interpenetração dos contrários. Os lados que se opõem constituem uma unidade.
Parece-me identificar, ao menos parcialmente, neste conceito, os princípios Yang e Yin da filosofia e da medicina chinesa. Para elas, o estado de saúde assenta no equilíbrio instável, em contínua modificação, das energias positiva e negativa simbolizadas na teoria cosmogónica do Yang-Yin. «Quando o “Yang” predomina, o corpo aquece, os poros fecham-se e o paciente começa a respirar com dificuldade, com falta de ar. A febre surge, a boca seca e a pessoa torna-se lenta e irritáve(citação do tratado clássico de «Medicina Interna» Huang Ti Nei Ching.)


HUANG TI – O Imperador Amarelo, suposto autor do «Clássico de Medicina Interna».


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