Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

                                  

   A MINHA EXPERIÊNCIA COMO MÉDICO DO

  NAVIO HOSPITAL GIL EANNES


                               III
               O NOVO GIL EANNES

A guerra acabara e viviam-se tempos novos. O cargueiro alemão arvorado em Gil Eannes estava velho e tinha de ser substituído. O Ministério da Marinha e o Grémio dos Armadores da Pesca do Bacalhau aliaram-se e empreenderam a construção dum navio hospital moderno. Com ele, também os Estaleiros Navais de Viana do Castelo receberam outro alento. E assim, em 1955, o novo Gil Eannes foi lançado ao mar.


Era um navio com quase 100 metros de comprimento, com um motor poderoso, velocidade apreciável para a época e proa reforçada para enfrentar o gelo. 


Tinha capacidade para receber 74 doentes.

                       UMA DAS ENFERMARIAS

    Dispunha de bloco operatório, situado no fundo do navio para se sentir menos o balanço, laboratório de análises clínicas, equipamento de radiologia e de fisioterapia.

                   SALA DE RADIOLOGIA




 BLOCO OPERATÓRIO


                    SALA DE TRATAMENTOS

                    SALA DE FISiOTERAPIA

Tinha câmaras frigoríficas espaçosas para armazenar produtos frescos. Possuía ainda uma capela e dispunha de um capelão que garantia a assistência religiosa aos pescadores.

 CIRURGIA A BORDO DO GIL EANNES

Durante quase vinte anos, fez de hospital, capela, correio, rebocador, quebra-gelos, sede de capitania e transportador de combustível, água, material de pesca, mantimentos e isco congelado. Depois envelheceu, ao ritmo da Frota Branca que servia.
A partir de 1963, passou a ser utilizado, nos intervalos das campanhas de pesca, em viagens de comércio, aproveitando a sua capacidade frigorífica. A estreiteza das aberturas dos porões dificultava, contudo, a estiva e tornava-a mais cara.

                  BERNARDO SANTARENO
Serviram, a bordo do navio hospital português, diversos médicos. Um deles iria tornar-se famoso: o Dr. Martinho do Rosário, mais conhecido por Bernardo Santareno, um dos maiores dramaturgos portugueses de todos os tempos. Grande parte da sua obra está ligada ao mar.

              DR. VIDEIRA E COMANDANTE TOSCANO

       DR. ABÍLIO CANHÃO E PADRE SÁ ROSA


Tive a honra de ser amigo do Dr. Canhão.
Embarquei em 1970 e 1971. Na primeira viagem, o comandante do navio era Mário Esteves, bom capitão e excelente companheiro. Seguiu-se-lhe o capitão Chinita, homem vertical com uma postura mais discreta.

CAPITÃO MÁRIO ESTEVES

Por essa altura, o Gil Eannes estava a despedir-se da Terra Nova. Fez a sua última viagem aos Bancos em 1973.
Depois, navegou até ao Brasil e, a seguir, à Noruega, buscar bacalhau fresco. Serviu ainda para transportar refugiados de Angola. Mais tarde, andou atracado pelos cais de Lisboa até ser vendido para abate.
A viagem ao Brasil mostrou-se, entretanto, providencial para lhe conseguir uma segunda vida. José Hermano Saraiva, recém-nomeado embaixador em Brasília, viajou nele.

JOSÉ HERMANO SARAIVA

Esse grande comunicador apelaria mais tarde, num dos seus programas televisivos, ao resgate do navio. A ideia mobilizou as forças vivas de Viana do Castelo.
A Comissão Pró Gil Eannes (que daria lugar à Fundação Gil Eannes) adquiriu-o. O velho navio fez a última viagem de Alhos Vedros para Viana do Castelo. Reabilitado, foi transformado em museu flutuante. Abriu as portas ao público em agosto de 1998. Uma parte das enfermarias foi transformada em Pousada de Juventude. Quem o quiser visitar, têm apenas de deslocar-se ao cais de Viana.



FONTES: GIL EANNES. PUBLICAÇÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO E DA COMISSÃO ESPECIAL PRÓ GIL EANNES, 1997. 
PARTE DAS FOTOGRAFIAS FOI RETIRADA DESTA BROCHURA.
OUTRAS FOTOGRAFIAS: ÂNGELO SILVA. GIL EANNES, HISTÓRIAS DO FIEL AMIGO. CÂMARA MUNICIPAL DE VIANA DO CASTELO, 2001, PALMIRA SILVA, INTERNET.



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