Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

quinta-feira, 3 de abril de 2014


                DÍLI 

  NO FINAL DO SÉCULO XIX

  PELOS OLHOS DUM MÉDICO


José Gomes da Silva nasceu no Porto e estudou na Escola Médico-cirúrgica. Alistou-se na Armada e chegou a Macau em 1882. Exerceu clínica em Timor durante ano e meio. Em 1886, deixou-nos as suas impressões sobre Dili.


«A rua principal, a aorta da cidade, partindo do palácio do governo e terminando na povoação suburbana de Bidau, é larga, alinhada em curva paralela ao litoral, arborizada, de casas de habitação feitas de pedra e cal ou simplesmente de madeira, ruas bem construídas com as necessárias condições de arejamento e exposição. As ruas transversais são geralmente menos largas, o que ali não tem grande inconveniente, por isso que as habitações não se erguem à beira da via pública, mas são precedidas por um quintal ou jardim cujas árvores espalham na estrada a protetora sombra.


Entre os melhores edifícios de Dili, conta-se hoje a alfândega, a igreja matriz, o quartel em construção, a cadeia pública e o edifício das repartições em que estão alojadas a secretaria do governo, o tribunal, etc. 


O palácio do governo, bem construído, elegante e vasto, acha-se contudo condenado pela higiene como habitação, por ter sido edificado sobre um antigo cemitério à beira-mar, num solo argiloso e na vizinhança imediata de um pântano misto.»
O hospital em que trabalhou durante 18 meses deixou-o desconsolado.
«O edifício que atualmente serve de hospital, embora solidamente construído, está muito longe de satisfazer o fim a que se vê destinado. Exíguo em demasia, dispõe apenas de uma sala para enfermaria geral, um quarto para oficiais, outro para secretaria e arquivo, outro de farmácia, com um cubículo anexo para a residência do ajudante de farmacêutico, outro para oficiais inferiores e outro, finalmente, de terra batida, mal arejado e pouco espaçoso, para a residência do enfermeiro de serviço.
Não há enfermaria para mulheres; não há uma enfermaria para doenças contagiosas, não há latrinas; não há um quintal sequer para passeio dos convalescentes.»


José Gomes da Silva aborrecia-se em Díli.

«Não há uma biblioteca, nem um grémio, nem um teatro, nem um centro de reunião, nem um bilhar, nem uma orquestra, nem um meio qualquer de distração do espírito. Deste modo, o europeu recentemente chegado a Díli é a pouco e pouco levado a aceitar a única distração que a terra oferece: fazer política.»

Fonte: Padre Manuel Teixeira, A Medicina em Macau.
Fotografias: Internet.

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