DÍLI
NO
FINAL DO SÉCULO XIX
PELOS OLHOS DUM MÉDICO
José
Gomes da Silva nasceu no Porto e estudou na Escola Médico-cirúrgica. Alistou-se
na Armada e chegou a Macau em 1882. Exerceu clínica em Timor durante ano e
meio. Em 1886, deixou-nos as suas impressões sobre Dili.
«A rua principal, a aorta
da cidade, partindo do palácio do governo e terminando na povoação suburbana de
Bidau, é larga, alinhada em curva paralela ao litoral, arborizada, de casas de
habitação feitas de pedra e cal ou simplesmente de madeira, ruas bem
construídas com as necessárias condições de arejamento e exposição. As ruas
transversais são geralmente menos largas, o que ali não tem grande inconveniente,
por isso que as habitações não se erguem à beira da via pública, mas são
precedidas por um quintal ou jardim cujas árvores espalham na estrada a protetora
sombra.
Entre os melhores edifícios
de Dili, conta-se hoje a alfândega, a igreja matriz, o quartel em construção, a
cadeia pública e o edifício das repartições em que estão alojadas a secretaria
do governo, o tribunal, etc.
O palácio do governo, bem construído, elegante e
vasto, acha-se contudo condenado pela higiene como habitação, por ter sido
edificado sobre um antigo cemitério à beira-mar, num solo argiloso e na
vizinhança imediata de um pântano misto.»
O
hospital em que trabalhou durante 18 meses deixou-o desconsolado.
«O
edifício que atualmente serve de hospital, embora solidamente construído, está
muito longe de satisfazer o fim a que se vê destinado. Exíguo em demasia,
dispõe apenas de uma sala para enfermaria geral, um quarto para oficiais, outro
para secretaria e arquivo, outro de farmácia, com um cubículo anexo para a
residência do ajudante de farmacêutico, outro para oficiais inferiores e outro,
finalmente, de terra batida, mal arejado e pouco espaçoso, para a residência do
enfermeiro de serviço.
Não
há enfermaria para mulheres; não há uma enfermaria para doenças contagiosas,
não há latrinas; não há um quintal sequer para passeio dos convalescentes.»
José Gomes da Silva aborrecia-se
em Díli.
«Não
há uma biblioteca, nem um grémio, nem um teatro, nem um centro de reunião, nem
um bilhar, nem uma orquestra, nem um meio qualquer de distração do espírito. Deste
modo, o europeu recentemente chegado a Díli é a pouco e pouco levado a aceitar
a única distração que a terra oferece: fazer política.»
Fonte: Padre Manuel Teixeira, A Medicina em Macau.
Fotografias: Internet.
Fonte: Padre Manuel Teixeira, A Medicina em Macau.
Fotografias: Internet.
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