Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

domingo, 23 de maio de 2010

HISTORINHAS DA MEDICINA


Numa tarde de quinta-feira, eu estava de banco em S. José.

Ao percorrer um dos longos corredores do hospital encontrei-me com o Vítor. Era cirurgião geral e teria dois ou três anos mais do que eu. Dávamo-nos bem.

Dessa vez, saudou-me de modo esfuziante. Era como se tivessem passado anos sem nos vermos, quando tínhamos estado juntos na Urgência da semana anterior.

Deu-me um grande abraço. Mal me deixou respirar, perguntou:

- Trabulo! Estás mesmo bem?

Eu ficara espantado com o ênfase da recepção.

- Estou. E tu?

Trocámos algumas frases e seguimos os nossos caminhos. Encontrei-o de novo, um par de horas mais tarde, no bar. Era outra vez o Vítor de sempre, bem-humorado e tranquilo.

- Desculpa lá, Trabulo, a minha reacção de há pouco. Tinham-me dito que tinhas morrido.

Ri-me. Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Alguns anos antes, em Setúbal, tinha corrido largamente o boato da minha morte. Uma doente pouco sensata telefonou mesmo lá para casa e perguntou à minha mulher:

- É verdade que o Senhor Doutor morreu?

Felizmente, eu tinha acabado de sair, cheio de saúde.

Ao entrar no Posto Médico julguei surpreender expressões de assombro em alguns rostos. Era como se estivessem a ver um fantasma, mas eu não podia adivinhá-lo.

Contaram-me a história mais tarde. Sei de velhinhas que choraram por mim. Não consta que raparigas novas tenham vertido alguma lágrima.


Foto: Internet.

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