Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

domingo, 21 de março de 2010

HISTORINHAS DA MEDICINA


Iniciei o estágio da Especialidade em Julho de 1973.

Éramos poucos e lançaram-me logo às feras da Urgência. Ignorante e receoso, fui obrigado a representar o Serviço de Neurocirurgia como se andasse lá há muito tempo e tivesse aprendido grandes coisas.

De dia, ainda era apoiado. À noite, a responsabilidade caía-me toda nos ombros. Lembro-me da voz grossa do meu chefe, o Doutor Correia de Almeida:

- Olhe que só tenho gasolina para chegar a Queluz...

Era lá que ele morava. Vinha, quando era mesmo preciso.

Ao entrar na Especialidade, mudei também de equipa de Banco e conheci o Doutor Bandeira. Homem experiente e cortês, teria mais dez anos do que eu. Conversávamos com alguma frequência. Às vezes, acontecia que um de nós era chamado ao trabalho e o diálogo interrompia-se.

O Doutor Bandeira pareceu-me um pouco distraído. Quando o encontrava de novo, minutos ou horas mais tarde, chegava a parecer-me que perdera o fio à meada. O colega mais velho ouvia-me com a mesma gentileza de sempre mas, em metade das ocasiões, parecia ter esquecido o que fora dito antes.

Creio que foi apenas no terceiro dia de Urgência com a mesma equipa que vi juntos os irmãos Bandeira. Atrapalhei-me e receei estar a sofrer de diplopia (visão dupla). Ainda conhecia mal o grupo de trabalho. Não me tinha passado pela cabeça ter estado a lidar com gémeos idênticos.

Um era Cirurgião Geral e o outro Ortopedista. Um deles coxeava ligeiramente. Conheciam todas as anedotas de gémeos e não pareciam apreciá-las. Terá sido por isso que nunca lhes contei esta história.

Se algum dos dois a ler, que aceite um abraço amigo!

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