Histórias da Medicina Portuguesa

No termo de uma vida de trabalho, todos temos histórias a contar. Vamos também aprendendo a ler a História de um modo pessoal. Este blogue pretende viver um pouco da minha experiência e muito dos nomes grandes que todos conhecemos. Nos pequenos textos que apresento, a investigação é superficial e as generalizações poderão ser todas discutidas. A ambição é limitada. Pretendo apenas entreter colegas despreocupados e (quem sabe?) despertar o interesse pela pesquisa mais aprofundada das questões que afloro.
Espero não estar a dar início a um projecto unipessoal. As portas de Histórias da Medicina estão abertas a todos os colegas que queiram colaborar com críticas, comentários ou artigos, venham eles da vivência de cada um ou das reflexões sobre as leituras que fizeram.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

OS MÉDICOS DE AL-ANDALUS


AVENZOAR E AVERROES


AVENZOAR

Ibn Zuhr (Avenzoar para os ocidentais) terá sido médico, farmacêutico, anestesista, cirurgião e parasitologista. Nasceu em Sevilha, em 1091, e estudou na Universidade de Córdova. Pertencia à família Banu Zuhr, que deu cinco gerações de médicos, incluindo duas médicas (a sua irmã e uma sua sobrinha) que tratavam doenças de mulheres.
Por volta de 1130, Avenzoar caiu em desgraça na corte do rei Almorávida Ali bin Tashufin e fugiu de Sevilha. A fuga correu mal. O médico foi preso e encarcerado em Marrocos. Terá passado 10 anos numa prisão de Marrakesh. Em 1147, quando os Almóadas conquistaram Sevilha, voltou à terra natal e aí exerceu e ensinou Medicina, enquanto os aliados dos seus soberanos lutavam com o nosso rei D. Afonso Henriques. Avenzoar morreu em 1161.
A sua obra mais conhecida é Al-Taisir. De clara orientação empírica, Avenzoar contrariou o dogmatismo aceite por quase todos os médicos árabes. Recorreu à observação cuidadosa dos doentes e à aprendizagem prática.
São-lhe atribuídas as primeiras descrições exactas de da meningite, da tromboflebite intracraniana e dos tumores do mediastino. Terá feito autópsias em seres humanos e em animais.
Tendo sido o primeiro cirurgião a fazer experimentação cirúrgica em animais, antes de aplicar as técnicas em humanos, é considerado o introdutor do método experimental em cirurgia. Introduziu a traqueostomia em cabras e sugeriu, pela primeira vez na História da Medicina, a nutrição parenteral em humanos, com recurso a uma cânula de prata ou de estanho. Demonstrou que a sarna era provocada por um parasita e foi o primeiro médico a oferecer uma explicação científica para as doenças inflamatórias dos ouvidos.
Há quem diga que foi o primeiro cirurgião da História a utilizar anestésicos inaláveis. Terá praticado centenas de intervenções cirúrgicas usando esponjas impregnadas de narcóticos colocados na cara dos doentes. No entanto, as informações disponíveis não são concordantes. A maioria dos comentadores não lhe faz referência.
A dar crédito a todas estas informações, Avenzoar terá sido o médico e cirurgião mais importante da História antiga, depois de Hipócrates e Galeno. É essa, pelo menos, a opinião do seu discípulo Averroes.
Maximiano Lemos, na sua História da Medicina em Portugal, é bem mais reservado ao avaliar o papel dos árabes no desenvolvimento da Medicina. Diz que nos trabalhos de Avenzoar não há coisas novas nem importantes. Afirma textualmente que os dogmas da religião maometana proibiam a dissecação dos cadáveres. Avenzoar terá sido mesmo um dos poucos médicos que se ocuparam da cirurgia, habitualmente entregue a subalternos.
O médico morreu em Sevilha de um tumor que tentou tratar a si próprio e de que descreveu a evolução.

AVERROES

Averroes é uma distorção latina de Ibn Rushd, que foi discípulo e amigo de Avenzoar. Nasceu em Córdova em 1126 e morreu em Marrakesh em 1198.
Foi mais filósofo do que médico. Escreveu ainda assim, vários tratados de medicina árabe, entre os quais o famoso Regras Gerais de Medicina, conhecido como Colliget na tradução latina. Averroes afirmou que ninguém podia sofrer duas vezes de varíola e foi o primeiro a atribuir propriedades fotorreceptoras à retina.
Chegou a ser médico pessoal do rei Abu Yusuf al-Mansur, mas foi destituído do cargo por divergências filosóficas com os Almóadas.



Fontes:
Lemos, Maximiano. História da Medicina em Portugal. Publicações Dom Quixote/Ordem dos Médicos, Lisboa, 1991.
Wikipedia
Gravuras: Net

Também publicado em O BAR DO OSSIAN

3 comentários:

  1. Disculpe que le diga que Avenzoar nace en Peñaflor (Córdoba)

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  2. Agradeço a sua informação. Já pensou em publicitá-la na Wikipedia?
    A. T.

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  3. Tenho acompanhado com interesse "Histórias da Medicina". Sobre o médico hispano-árabe, o que consegui rebuscar em Enciclopédias e outras obras, deduzo que ele nasceu, como diz, em Sevilha.

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